Kevin Jackson conta sua visão para compor o príncipe Désire de A Bela Adormecida
Nessa entrevista o bailarino Kevin Jackson conta como foi a construção do papel do príncipe na recente montagem do Australian Ballet - A Bela Adormecida. O melhor; Kevin fala de aspectos e linhas de pensamentos que você poderá seguir para estudar vários outros personagens. Além de entender melhor este personagem especificamente.
Como a narrativa dos repertórios acontece unicamente pela pantomima, a interpretação precisa ser minuciosamente estudada, estar exatamente de acordo com cada nota musical e tudo isso dentro da técnica do ballet clássico.
Pensando como o príncipe Désiré:
“ O príncipe Désiré tem uma bela jornada, que começa solitária até se apaixonar e encontrar uma nova alegria e o mais profundo e verdadeiro amor. "
O vejo como uma alma um pouco perdida que está sempre em busca de algo a mais na vida, então quando resgata a princesa Aurora e encontra os pais dela, O Rei e a Rainha, ele também encontra o príncipe que há nele.
A história se desenha com a Bela Adormecida, o príncipe não é o agente da história - tudo gira em torno da Fada Lilás e Carabosse, ele nunca está no controle completo. Então, a coisa mais importante em minha mente é fazer dele um personagem forte, sem a necessidade de ser um tipo de guerreiro, e o que me ajuda nessa construção é dar -lhe uma história de fundo que me ajude a encontrar as características dele.
A primeira vez em que vi uma produção deste ballet, eu estava prestes a completar 11 anos em Perth, acho que foi com o Kirov. Me lembro de ter sido grande e opulento, com tudo o que se espera do ballet russo tradicional. No meu primeiro ano na Escola do Australian Ballet, fizemos o casamento de Aurora e eu era um cortesão. Em 2005, o Australian Ballet dançou a produção de Stanto Welch, e eu fiz vários papeis diferentes.”
Sobre ser partner:
“ Como bailarino, estamos sempre em busca de ajudar a nossa partner a ter um bom aspecto em cena. Nessa versão de David, o Príncipe tem apenas um pas de deux com a Aurora. Mas no terceiro ato ela já passou por muita coisa, são dois atos de solos!
O Adagio da Rosa é incrivelmente difícil para a bailarina e eu só preciso ser como uma rocha dando o melhor apoio para ela. O pas de deux deve ser absolutamente lindo e o ponto alto da noite."
"Nós temos parceiros diferentes em diferentes obras e Lana Jones não era a minha parceira desde de Manon em 2014, então nos primeiros ensaios tivemos que aprender onde colocar o peso, ou se seria necessário empurrar mais para fora na pirouette, e ainda pensar coisas como; onde nos olharmos e como iríamos mostrar o nosso amor.
Nesse ballet temos pouco tempo como casal, ela acorda e logo depois acontece o casamento, não há intervalo! Então precisamos encontrar uma maneira de construir o amor em cena para torna-lo realista neste curto tempo."
O trabalho com o diretor David McAllister:
“É emocionante ver como ele entrou no papel de coreógrafo tão facilmente, está inspirado e animado e cada ensaio têm sido edificante, divertido e cativante."
Gosto na versão de David, porque ele realmente se envolve com as histórias de contos de fadas, sendo um leitor ávido - e realmente acredita em um outro mundo. Sabemos que existem preocupações, mas ele não deixa isso chegar até os ensaios.
O trabalho caminhou rapidamente, David pensou sobre isso por um longo tempo, então sabia o que queria em cada cena e conhece a música perfeitamente.
Ás vezes, somos mais reservados com os coreógrafos e temos um certo receio de não concordar com o que está sendo feito, mas eu estou totalmente comprometido com a visão de David admirando o que ele faz, dando aquela sensação de tradição mantendo a grandeza e a mímica clássica.“
O estilo ultra-clássico de Petipa:
“Eu procuro não faze-lo demasiadamente acadêmico, pois mesmo em um repertório estritamente clássico é preciso haver fluidez. Não gostaria de ser visto executando passos como na sala de aula. Quero ser capaz de expressar da maneira mais clara a emoção da história.
Na cena da caça, por exemplo, tenho o solo da saudade com grande quantidade de saltos controlados e curvas lentas, o que pode fazer realmente o espectador pensar tecnicamente, mas eu procuro a ligacão com a Fada Lilás, desejando e procurando algo.
Trata-se de respirar a emoção através dos meus músculos, buscando o movimento de dentro pra fora.”
A parte preferida do ballet:
"O pas de deux do terceiro ato é tão icônico e belo! Eu amo as pescadas, a música e as surpresas, assisti-lo é sempre emocionante pra mim, e dança -lo com Lana me faz sentir confortável, ela é muito destemida, centrada e confiante, o que torna fácil para mim ler o que ela vai fazer."
Tradução e adaptação Milena Pontes - da entrevista original de Rose Mulready | fonte: The Behind Ballet
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