Ballet adulto não é moda ou uma nova modalidade de ballet clássico, é o mesmo ballet clássico, com o mesmo plié praticado para se chegar a profissionalização em qualquer outra idade. A diferença está nas motivações e expectativas, afinal este “movimento” dá forma ao sonho de muitas pessoas de continuar sua prática no ballet, ou iniciar já na fase adulta.
Tendo claro que a idade não é uma barreira para dançar, e o crescimento das turmas e escolas especializadas trazem mais um passo importante; ir para o palco.
O desejo de se apresentar muitas vezes vem seguido da pergunta: " Mas como é a roupa que eu vou dançar?
Ver bailarinas adultas amadoras lindamente nos palcos não é um desejo só delas, é nosso também; por isso escolhemos este tema para a estreia da colaboração do bailarino, historiador e figurinista João do Abertini Ateliê aqui no blog.
Com a minha vivência como bailarina adulta e na troca que acontece através no instagram @tutu4love vejo que amor e vontade não faltam nessas turmas, mas ainda é preciso vencer obstáculos e preconceitos, a exemplo do próprio corpo. Nesse momento em que o figurino se torna um problema ou esperamos a partir de agora; uma solução.
Muitas mulheres ainda resistem na hora colocar um figurino e subir ao palco em uma apresentação, fazendo errôneas comparações.
Desse modo, pensar o figurino se torna um grande desafio, mas também um importante campo de possibilidades para tornar a experiência agradável e inesquecível como deve ser!
Na hora de criar o figurino para um bailarino, muitos fatores devem ser levados em consideração, uma vez que o corpo e emocional do adulto tem suas características e limitações. Em um corpo de baile adulto por exemplo, temos vários tipos de corpos e físicos, pesos diferentes, alturas e cargas emocionais, e ao pensar em um figurino não podemos fazê-lo como faríamos para um conjunto de crianças ou adolescentes, pois a relação com o corpo é outra. Sendo assim, uma escolha errada pode causar constrangimentos desnecessários tirando o foco do que realmente importa.
A partir da decisão de ir para o palco, é um desejo em comum ter um figurino com a forma que caracteriza uma bailarina, afinal, os tutus e sapatilhas são símbolos máximos da dança clássica. Portanto, vamos apresentar algumas formas de trazer a harmonia para esse corpo de baile tão especial, e detalhes que podem enriquecer essa experiência.
Um exercício simples é observar como sua aluna ou aluno adulto se veste nas aulas; O que ele expõe? O que ele disfarça? Isso diz muito da sua relação com o corpo e disponibilidade.Não existe um corpo, ou peso, ou altura certas para dançar, mas alguns detalhes podem fazer a diferença na autoestima e experiência com o palco que eles vão ter.
Tipos de Tutus
O Tutu Clássico (bandeja, prato, panqueca, etc rs) e o Tutu Romântico são as formas mais usadas nas criações. Ao pensar no tipo de tutu que escolheremos para o ballet adulto, não só o corpo da bailarina, mas como ela se sente em relação a ele deve ser levado sempre em consideração, é preciso estar se sentindo bem para dançar bem!
O Tutu Romântico é sempre uma boa opção. Mais longo, harmônico e discreto. Pode ter sobressaias decoradas que privilegiem o tema da coreografia ou serem apenas de tule o que já dá um efeito maravilhoso. A forma da construção das camadas de tule pode diversificar no formato e no efeito que se quer ter; como aumentar e diminuir o volume dos quadris; por exemplo. No caso de uma bailarina que não esteja confortável com o sua medida, este cuidado também se faz necessário. O figurinista deve considerar o tulle pregueado ao tulle franzido (este dá mais volume) e dispensa um grande número de camadas.
Outra opção é o uso do Tutu Italiano, um modelo de tutu semelhante ao Tutu Romântico, um pouco mais curto, geralmente até o comprimento do joelho.
Dica: Para evitar a transparência de um número menor de camadas, pode-se usar uma camada por baixo, ou por cima, ou em ambas, de tulle francês pregueado bem pequeno, pois o filó francês tem a trama mais fechada diminuindo a transparência.
O Tutu Prato ou Clássico, sem dúvidas é um dos mais característicos do imaginário. Este é mais revelador e tem como característica deixar o corpo mais exposto evidenciando a técnica e trabalho de pernas e pontas. Pode ser uma opção para realçar as linhas e a silhueta da bailarina, mas se a intenção for disfarçar um pouco as pernas, coxa ou quadril entre os Tutus Prato existe o formato, "Tutu Sino" ou "Abajur", bastante característico do Ballet Imperial Russo do século XIX, e que possui uma silhueta parecida, com a diferença de não ser não armado, pendendo um pouco para baixo.
Collants, corpetes, mangas e adereços.
Outra característica muito comum no figurino adulto é o desconforto de algumas bailarinas com os corpetes e collants que marcam todo o tronco e na maioria não tem uma boa sustentação para o busto. Isso é comum nos figurinos feitos de material como elastano mais molinho, feito para aderir ao corpo revelar tanto aquilo que gostamos quanto o que não gostamos. Esse é chamado de Tutu Russo, uma única peça (tem o corpo inteiro até a base da cintura, basicamente um collant e uma saia) feitos em tecidos elásticos.
Muitos pensam que essa é a única forma de estruturar um figurino mas existe uma outra modelagem que pode ser usada para mais sustentação; os tutus feitos em duas partes no estilo francês – composto do corpete e da pala que recebe a saia, seja ela clássica ou romântica. Esse tipo de modelagem pode ser confeccionada tanto em um tecido com elastano mais grosso, quanto em tecido plano, com adição de forro, pelo fato de ser elaborado com dois fechamentos, sendo um para a pala que vai até a cintura, e outra para a parte sobreposta que vai da cintura até o busto. Ele traz uma sensação de mais firmeza e ajudando a bailarina a se sentir mais segura e elegante. E atribuiu um toque mais profissional!
O colo e os braços também são pontos importantes a serem observados. Algumas bailarinas não se sentem bem com excessos de decotes e cavas, tanto por uma questão estética, quanto por conforto. Bailarinas com seios muito grandes costumam usar recursos como a bandagem para comprimir os seios e evitar o desconforto nos saltos e giros. Nestes caso além de um tecido apropriado como falamos acima, também se pode recorrer a modelos que possuam alças mais largas, com elásticos de qualidade que podem ter nylon transparente, serem bordados para dar um toque a mais, e decotes mais discretos velados por outros tecidos.
As mangas são outro recurso, apesar de pensarem diretamente apenas em um tutu de alça fina, não existem apenas eles, há muitas possibilidades para usar mangas de diversos tamanhos e volumes inclusive para repertórios clássicos. Mangas, sobreposições e adereços (manga soltas ou enfeites de braço) complementam o figurino trazem uma outra percepção de acabamento, e trazem o foco para a parte superior.
Dica: Se muito volumosas e longas, as mangas avulsas podem dar a impressão de que os braços da bailarina são mais curtos ou mais volumosos, este é um detalhe que precisa ser proporcional e requer tirada de medidas assim como as outras partes.
Cores e formas
Sabemos que o ballet é extremamente ligado ao universo infantil, e que essa não é uma referência fiel a esse universo. As escolhas para bailarinas adultas não precisam infantiliza - las se essa não for a intenção da mensagem. Figurinos com muitos laços, flores, babados, volumes, e a escolha de algumas cores e suas combinações pode torna--lo uma caricatura infantilizada. Por isso é melhor buscar referências que contextualizam aquela história, do que se pautar por esteriótipos.
Se tratando de arte não existe certo ou errado, mas o figurino como uma extensão importante do conceito de uma coreografia merece um olhar especial, e além de tudo o que ele deve transmitir se tratando de enredo, também deve ir inteiramente de encontro com o desejo, interesse e bom senso dos profissionais e alunos que interagem durante as classes e espetáculos.
Escrevemos este artigo para ajudar nessa busca, e tornar as experiências na dança cada vez melhores para bailarinas de qualquer idade. Que todas possam se sentir confortáveis com a própria imagem e ter lindas lembranças.
Esperamos que gostem e que estas idéias sejam úteis na escolha dos próximo figurinos.
Mérde!
Colaboração: João Paulo Bertini - Figurinista e Diretor Criativo Albertini Costumes. Para conhecer mais do trabalho dele clique aqui!
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