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Tudo sobre a nova série de dança da Netflix, e entrevista com a coreográfa-chefe Jennifer Nichols .


Sim, teremos uma nova série com muito ballet e outros estilos para maratonar! Obrigada Netflix!!


Estamos falando de “Tiny Pretty Things” - por aqui com o título de O Preço da Perfeição que estréia segunda feira dia 14 de dezembro na plataforma.


Baseada no livro de mesmo nome das autoras Sona Charaipotra e Dhonielle Clayton de 2015. Críticos apostam em uma mistura teen dos filmes Black Swan com a série Pretty Little Liars mas abaixo na entrevista com Jennifer Nichols podemos ter uma visão bem mais ampla dos aspectos da trama.


A narrativa de Tiny Pretty Things acontece na importante escola de dança de Chicago, a única escola de dança de elite Archer School of Ballet que serve como uma ponte para a renomada companhia profissional da cidade: City Works Ballet e reúne talentos de diferentes classes sociais e de toda parte o que alimentam os conflitos e competitividade entre eles. Compartilhando a mesma paixão e o dia a dia para conseguir a tão sonhada carreira profissional.


A série traz no elenco muitos bailarinos profissionais que já fizeram parte da Broadway e outras grandes companhias internacionais. Assim como, novos talentos que estão surgindo como Juliano Nunes, brasileiro hoje radicado na Alemanha onde está trabalhando como coreógrafo freelance em diversas companhias e projetos ao redor do mundo e que está em ascensão assinando belos trabalhos.

Jennifer Nichols e Juliano Nunes

Giovanna Lamboglia, bailarina e professora brasileira mas que vive em Londres entrevistou Jennifer Nichols, coreógrafa chefe e consultora de dança da série com a qual trabalhou diversas vezes em Toronto, no Canadá.


G.L: Jen, nos fale sobre a sua experiência na série que está chegando. Como foi o processo coreográfico? Acredito que coreografar para espetáculos deva ser diferente de coreografar para a TV, visto que tem a questão das luzes, sombras, ângulos...


J.N.: Sim, absolutamente é um processo diferente de criar movimento para a tela do que para o palco. Alguns aspectos são iguais, outros são muito diferentes. Quando você não está coreografando com uma visão de palco que é muito plana, você tem o desafio adicional, mas também a vantagem de mostrar a coreografia de uma perspectiva de 360º ​. Podemos criar formas e padrões que podem ser vistos de cima, de uma visão aérea, o que é impressionante. O filme também mostra a coreografia não apenas de forma ampla, mas de perto. As nuances de um pas de deux, a conexão emocional entre os bailarinos e os ângulos extremos e a intensidade da fisicalidade são mostrados bem de perto. Então, suponho que você poderia dizer que é um processo de duas partes: primeiro você tem que criar com toda a imagem em mente e, segundo, com a possibilidade de mostrar o movimento de forma mais íntima e de todos os ângulos. Há também a possibilidade de brincar ainda mais após a conclusão da filmagem, no processo de edição. Eu trabalhei em conjunto com os editores e ajudei a descobrir as maneiras mais eficazes e impressionantes de mostrar o trabalho. Os diretores também estão envolvidos no processo desde o início. Cada um deles tem sua própria abordagem artística para as cenas, e em primeiro lugar nos sentamos para discutir a "visão" de cada um deles e de como eles vêem a cena se desenrolando. Falamos sobre as cenas e ângulos que terão no filme e colaboramos na melhor maneira de conseguir isso. Freqüentemente, eles vêm para assistir a alguns ensaios e rever os vídeos que eu mando dos processos de ensaio. Às vezes, isso muda o que eles haviam planejado, pois a coreografia inspira ideias diferentes. É bem colaborativo e me traz muita satisfação.


G.L: Iremos ver mais danças clássicas, contemporâneas ou um pouco de tudo?


J.N.: Com certeza um pouco de tudo! Uma das coisas que mais me deixou animada sobre o diretor da série, Michael McLennan, era que ele queria apresentar uma imagem "realista" de uma escola profissional de ballet clássico nos Estados Unidos. É claro que a base do treinamento dos bailarinos é o ballet clássico e esta é a prioridade de qualquer escola de ballet profissional. Mas a realidade dessas escolas hoje é que outras linguagens da dança também são ensinadas e desenvolvidas. Essas formas adicionais não são mais apenas danças á caráter com foco nas danças da Europa e do mundo ocidental. Eles abrangem a dança neoclássica e contemporânea, bem como jazz e hip hop. Como eu disse, a base e o foco dessas escolas é o ballet clássico, mas muitos formados em escolas profissionais ingressam em companhias com repertório de dança contemporânea. Além disso, as companhias clássicas agora estão expandindo seu repertório para incluir obras contemporâneas. Os ballets clássicos de repertório são lindos, mas não são mais suficientes para manter a maioria das companhias funcionando. Isso significa que os bailarinos profissionais devem ser versáteis o suficiente para interpretar tanto o clássico quanto o contemporâneo para serem contratados, eles precisam ser bons em ambos. Nós demonstramos isso na série e também lembramos nosso público que muitos bailarinos vivem apenas para dançar, seja lá o que isso signifique. Portanto, fora das suas aulas diárias, você os verá explorando muitos outros gêneros de dança. Bailarinos são bailarinos! Eles estão famintos por movimentos de todos os tipos!

G.L: Durante o isolamento social e com as redes sociais em alta, muitos bailarinos expuseram nos seus perfis a realidades de muitas companhias e escolas de dança quanto à questão da diversidade na dança clássica. Iremos ver essa representação na série, que tanto faz falta na indústria do ballet?


J.N: Sim, o mundo da dança está passando pela mesma avaliação que o resto do mundo quando se trata de diversidade racial, igualdade de oportunidades e representação. Este é um momento particularmente importante para o mundo do ballet clássico que durante séculos foi uma forma de arte européia e branca. Temos um longo caminho a percorrer, mas estou feliz com o avanço da consciência e com o que isso pode significar no futuro. Nossa série fala sobre isso e espero que reforce a mensagem de que o ballet é uma forma de arte para todos, que pode ser apreciada por todos, e ser buscada profissionalmente por todos. Nosso elenco principal é racial e culturalmente diverso, e esta é uma verdadeira representação de para onde estamos começando a nos mover no mundo do ballet e para onde devemos continuar a ir, garantindo assim que nossos palcos sejam plataformas de representação iguais. A mudança em nossa consciência social é absolutamente vital no mundo do ballet e há muito tempo necessária.



G.L: Sabemos que os caminhos do ballet clássico e a escolha de ser um bailarino profissional não são fáceis incluindo horas e horas de aulas, ensaios, dores, lesões e que muitos lugares, filmes e outras séries já conhecidas retratam a dança focando nesse lado, se esquecendo de mostrar também que a dança tem muitos lados positivos. O que a série irá mostrar além dos dramas de ser um bailarino?


J.N.: Você está absolutamente correta. Os filmes e programas de televisão que vimos baseados no mundo do ballet costumam enfatizar demais a dificuldade, a dor, o lado sombrio da profissão. Claro que não serviria bem para a forma de arte adoçar o processo e representá-la apenas com tiaras, no entanto, acho que a negatividade foi levada longe demais. Não podemos esquecer que existe um motivo muito real pelo qual os jovens se encantam com a arte, o porquê ela alimenta tanto a alma que os bailarinos estão dispostos a fazer sacrifícios extremos e a enfrentar tantos desafios! Se fosse tudo ruim, não teríamos tantos bailarinos se formando em escolas profissionais e lutando por um lugar em uma companhia.

Eu sinto que a série atinge um equilíbrio entre a luz e a escuridão. Há cenas onde os momentos "transcendentes" da dança são claros, onde a combinação da música, a conexão entre dois bailarinos ou a sensação incomparável de voar pelo ar são de tirar o fôlego. Há cenas que nos lembram de que enquanto há sempre competição entre alunos de ballet (competição por uma vaga na escola, por um papel, por uma oportunidade de ser considerado para a companhia), os laços estreitos, o apoio e a amizade nessas instituições são inigualáveis. Os alunos realmente formam sua própria família. Como acontece com todas as famílias, existem altos e baixos, mas no final do dia, eles se amam e estão lá para ajudar! Além disso, seguir uma carreira profissional na dança proporciona aos jovens um foco e disciplina que é completamente único. Acho que a série lembra ao público que embora o treinamento peça a esses jovens bailarinos para crescer rápido, para enfrentar os desafios como adultos muito mais cedo do que a maioria, também lhes dá a oportunidade de construir caráter e força que os guiaram ao longo da vida, independente de conseguirem uma carreira na dança ou não. A escola de ballet é difícil, mas constrói artistas e guerreiros!


G.L: E para finalizar, o que você acha que essa série tem de diferente de outras séries e filmes relacionados à dança? Como você acha que ela vai impactar os bailarinos que forem assistir?


J.N.: Acho que o que irá diferenciar esta série, é que enquanto ela se passa em uma escola de ballet e é rica em cenas de dança (os amantes da dança certamente ficarão satisfeitos com a quantidade de dança na frente das câmeras!). A narrativa é construída sobre muito mais do que apenas o dia a dia das aulas, ensaios e apresentações. Há tantas cenas diferentes na série, tanto desenvolvimento de personagem que vai além da dança. Existem mistérios a serem resolvidos! Além disso, como mencionei antes, porque não mostramos simplesmente ballet clássico, também abrimos as portas para diferentes coreógrafos de todo o mundo. Como coreógrafa-chefe, criei grande parte da dança para a série, mas também tive o privilégio de trazer outras vozes coreográficas inspiradoras da cena da dança. Como há uma variedade de personalidades e estilos de dança mostrados, acho que agrega muita textura a série. Não há apenas uma nuance ao longo da temporada.

Sinto orgulho por termos conseguido nos manter fiéis a realidade e manter um alto nível de entretenimento sem cair em "clichês" da dança. Isso já foi feito demais!



G.L: Jen, muito obrigada pelo seu tempo e por nos disponibilizar um pouquinho sobre Tiny Pretty Things. É sempre muito bom ver projetos que envolvem o mundo da dança.

J.N: Muito obrigado, Gio! O prazer é meu!













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